Escolho fazer escolhas
Fazer escolhas sempre foi um grande desafio.
Até aqui tudo bem. Não é mesmo uma tarefa fácil. O problema era que fazer
escolhas sempre foi algo negativo, algo ruim e, como consequência, passou a ser
uma tarefa que eu evitava sempre que possível. E o pior: não fazer escolhas é muito
possível e, muitas vezes, mais acessível e cômodo.
O tempo passa e as nossas percepções mudam. Hoje, vejo que ter que escolher é uma verdadeira benção. Ter que escolher indica que estamos caminhando. Para frente ou para trás, pouco importa. A necessidade de escolha encontra no outro lado necessariamente nosso crescimento.
Diante de uma escolha, então, a sensação que pode ficar é a de perda. Perda daquela opção que acabamos deixando para trás. Talvez essa sensação acaba sendo sentida pela nossa dificuldade de compreender as coisas de uma forma mais otimista e, principalmente, pela facilidade imperceptível que temos de nos sabotar.
Podemos sentir também aquele sentimento que vem do arrependimento, aquela sensação de que fizemos a escolha errada e de que se tivéssemos escolhido a outra opção tudo teria sido diferente, tudo teria sido melhor. Ouso escrever que essa sensação parte de uma crença construída por nós. Ouso dizer que, racionalmente, ela não faz sentido. Nossa jornada não é uma loteria. Não estamos contando com a sorte de acertar entre uma suposta escolha certa e outra errada. Vejo nossa jornada como uma tentativa constante dos nossos feitos se alinharem e se harmonizarem. Todas as escolhas são corretas e é exatamente sobre isso que gostaria de escrever.
A necessidade de escolha sugere uma caminhada, sugere produção. Um corpo inerte não faz escolhas, mas também não progride, não produz, não se transforma.
A escolha feita nos indica algumas coisas. A opção preterida, também. Essa última, por exemplo, mostra que as suas características e as consequências que teriam que ser assumidas a partir dela não têm nenhuma compatibilidade com o nosso ser. Pode mostrar também que, ainda que tenha alguma compatibilidade, nada que possa ser comparada àquela opção que foi escolhida. Cada escolha representa um excelente feedback.
Ok, mas qual a importância disso afinal? Somos o que escolhemos. Claro que o que escolhemos anos atrás não define o que somos hoje, mas nos definia quando a escolha foi feita. Por isso, inclusive, a importância da escolha para a nossa transformação. E há outra importância: nossas escolhas refletem nosso estado mental de momento. Quanto mais escolhas fazemos, mais oportunidades temos de nos conhecer, de nos compreender, tarefa essa nem um pouco fácil. E aqui a importância fica mais nítida. Nosso sucesso e nossas realizações dependem de determinação, foco e de um propósito. Como alcançá-los sem antes nos conhecer?
Interessante ainda perceber que não conseguimos talvez explicar com palavras as escolhas feitas, mas, certamente, nosso corpo sempre nos dá sinais e dicas para a escolha ser feita. E como é importante saber o que nos faz bem, certo? Precisamos anotar e gravar esses toques. É sério, viu?! Papel e caneta na mão quando isso acontecer.
A opção descartada pode estar te indicando, muito provavelmente, os caminhos que você não deve seguir. Talvez essa escolha rejeitada seja a mais importante. A opção desejada pode, depois de um tempo, quando confrontada com outra, ser igualmente descartada. Cada escolha, cada descarte nos coloca mais próximo de quem realmente somos.
Mas por que só provavelmente a escolha descartada indica o caminho que não deve ser seguido? Porque podemos, sim, acabar escolhendo a opção que deveria ser a errada, ou seja, podemos acabar descartando a opção que mais diria sobre nossa essência, que nos faria melhor. Aqui a escolha é de importância ímpar, pois revela um momento que precisamos parar – sim, literalmente parar - para pensar. Pensar sobre o motivo de abdicarmos da opção que nos faria melhor; pensar sobre eventuais medos e inseguranças; pensar sobre o que poderia estar nos influenciando. A escolha feita nesse caso, boa ou ruim, continua sendo uma útil mensagem do nosso corpo que precisamos absorvê-la. Por isso a necessária parada para que esse processo aconteça.
O texto já se alonga e, pela minha proposta e promessa aqui com vocês, preciso já concluir.
A escolha é o instrumento que permite darmos o próximo passo em nossa vida e esse próximo passo não será necessariamente para frente. Um passo para trás, então, pode ser tão bom ou até melhor que um para frente justamente por permitir darmos dois passos quando tivermos que fazer uma nova escolha. E assim, com o tempo, serão cada vez maiores os saltos.
Parece, então, que o pior dos cenários seja não ter escolha a fazer.
Foi um prazer!
t.s
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